O Violino Mágico

Por Figueiredo Pimentel (adaptado)

Dário era um bom mocinho, alegre e esperto, estimado por todos que o
conheciam.

Um dia despedindo-se de sua família e de seus amigos, saiu de casa, para ganhar
honradamente a vida.

Ele era o mais velho dos cinco filhos que tinha o tio Pedro; e como a miséria lhes batia à porta, forçoso foi que o moço saísse, para não sobrecarregar o pai, em prejuízo dos irmãos menores, e também para ver se melhorava de sorte.
Ao despedir-se, o pai lhe dera por toda fortuna uma moeda de prata; e ele julgou-se rico, porque não conhecia o valor do dinheiro.

Caminhava alegremente pela estrada que conduzia à cidade, quando encontrou
um velhinho, abrigado à sombra de uma árvore, gemendo e chorando.

Dotado de excelente coração, Dário tratou imediatamente do enfermo, e deu-lhe a sua única moeda de prata.

O velhinho, agradecido, disse:
– Já que foste tão caridoso, vou fazer-te um presente. Aqui tens este violino.
todas as vezes que o tocares, quem o ouvir não poderá resistir ao desejo de dançar.

Dário saiu satisfeito com o presente, e pouco adiante, encontrou-se com um homem avarento, que espoliava todo o mundo, emprestando dinheiro a altos juros, em troca de bons e valiosos penhores de prata, ouro e pedras preciosas, que nunca mais entregava aos respectivos donos.

Naquele mesmo instante o homem acabava de perder um vintém, e procurava-o aflitamente, como se se tratasse de imensa fortuna.

O moço ofereceu-se para ajudá-lo; e, como tinha boa vista, enxergou a moeda de cobre caída no meio dos espinhos. Ia apanhá-la, mas o avarento não o consentiu, pensando que Dário fosse capaz de roubá-la.

– Ah!, disse Dário consigo mesmo: desconfias de mim! Deixa estar que me pagarás…

Esperou sentado; e, assim que viu o miserável dentro dos espinhos, começou a tocar o violino.

O homem, escutando aqueles harmoniosos sons, começou a dançar; e quanto mais Dário tocava, tanto mais ele saltava, quase sem fôlego, rasgando a roupa, ferindo-se nos espinhos.

– Pára!… Pára!… cessa esse violino do diabo! Pára, que já não posso mais!
berrava o homem, desesperado, sempre a dançar.

O rapaz, porém, continuava sempre a vibrá-lo.

– Pelo amor de Deus, pára com essa música, que te darei uma bolsa de ouro!…
disse, enfim, o avarento.

– Ah! isso é outro modo de falar! respondeu o mocinho, emudecendo o mágico
violino, depois que o homem atirou a bolsa.

No dia seguinte, chegando à cidade, Dário foi preso. O homem tinha ido queixar-se que havia sido roubado por ele.

O moço foi condenado à prisão.

No momento em que ia ser preso, pediu que lhe permitissem tocar pela última vez o violino.

O avarento, que estava próximo, gritou logo:
– Não o deixem tocar mais!… Não o deixem tocar!…

O juiz, porém, que não via razões para recusar, acedeu.

Dário começou a vibrar o violino, e imediatamente todos – juiz, carrasco, soldados, homens, mulheres, velhos e crianças – todos começaram a dançar.

– Basta! gritava o juiz.
– Basta! gritava o povo.

Dário cessou a música. O juiz convenceu-se que o rapaz não era criminoso, perdoou-o, e mandou prender o homem mentiroso.

2 Comments

  1. Taxar de judeu, um homem avarento já é folclore comum. Mas acusar um judeu de falso testemunho é contra os princípios da religião.

    1. Prezado Ivan,
      Obrigado por sua mensagem.
      Adaptei a história retirando a menção que você citou

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